Talvez você já tenha ouvido ou mesmo falado que sentir dor no corpo, principalmente com o decorrer da idade, é natural. Não se engane, a dor é um sintoma de que algo está em desarmonia no organismo e, por isso, precisa ter sua origem descoberta. Muitos desses desconfortos físicos, até mesmo aquela enxaqueca que ninguém encontra a causa, podem ter origem – e solução – a partir do seu caminhar. Isso mesmo! Especialista na área, a fisioterapeuta Silvia Bazzi explica que a podoposturologia, que estuda a influência dos pés na postura corporal e sobre o sistema nervoso, revela que muitos casos de dor têm relação direta com a memória física do corpo, e ela começa na nossa pisada.
Uma avaliação profunda, feita por profissionais da área poderá diagnosticar se esse é o seu caso. Se a resposta for positiva, o objetivo será de, não apenas descobrir o que causa a disfunção e tratá-la para uma solução mais assertiva, mas também trazer uma oportunidade de autoconhecimento por parte do paciente. “Na medida em que a pessoa começa a descobrir como seu corpo está conectado, expande a consciência com relação à forma como deve trabalhar com ele, tanto na postura que assume no trabalho ou em casa, como também na posição de enfrentamento dos seus desafios”, afirma Silvia.
A MEMÓRIA DO ERRO
Com base nesse olhar integral, a especialista percebeu que corrigir a pisada era apenas um dos fatores, mas ela também precisava trabalhar a parte muscular, onde ficam guardadas as memórias do movimento corporal, e o movimento em si. Por isso, integrou três técnicas.
Depois de estar com todas as informações sobre os problemas que ocasionam as dores, o processo para realinhar o corpo acaba sendo simples: à medida em que as atividades diáriascomeçam a ser realizadas com o uso da palmilha, os movimentos repetidos fazem o cérebro aprender, a memorizar e automatizar o novo padrão. “É um trabalho de reprogramação cerebral para alinhar o corpo que irá gerar bem-estar e alívio das dores. E quando essas três técnicas são associadas, os resultados são otimizados e potencializados”, observa a fisioterapeuta.
Para se ter uma ideia, enquanto um paciente que apenas faz uso da palmilha demora de três a seis anos para corrigir o problema e deixar de usá-la, aquele que integra as três técnicas tem seu objetivo conquistado entre nove meses e um ano após o início do tratamento. “Essa é a essência do nosso trabalho, tratar as dores, promover o autoconhecimento do paciente e a reprogramação do movimento para que ele possa ter mais qualidade de vida e mais funcionalidade para envelhecer com saúde e alegria. Porque ninguém deve viver com dor.”
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A DOR
Além disso, destaca a especialista, é preciso entender que a parte biológica do funcionamento fisiológico das estruturas, se soma à emocional: a forma como cada pessoa lida com os desafios diários, as experiências vividas inclusive pelos pais, e aí entram as crenças que cada um carrega desde o nascimento... tudo influencia na questão da dor, fazendo dela muito mais subjetiva do que quantitativa. “A membrana que reveste o músculo é rica em sensores, então dependendo de como você sente determinado acontecimento ou situação, seu corpo irá se contrair ou relaxar, tornando-o mais vulnerável a sentir dor ou não.” Silvia observa que a pandemia, por exemplo, resultou numa demanda maior de trabalho na clínica. “A preocupação com as finanças, com demissões e fechamento de negócios potencializaram as dores, exatamente pela própria insegurança de perceber um universo hostil, perigoso. Isso mantém as pessoas em estado de alerta, em vigilância, o que gera um aumento de tensão em todo o corpo.
TRATAMENTO MULTIDISCIPLINAR
Passou por diversos profissionais, ortopedista, osteopata, mesmo fisioterapeuta, tomou medicação, mas a dor persiste. Até alivia um pouco, mas pouco tempo depois ela está de volta. Esse é o caminho natural quando o desconforto tem origem num corpo desalinhado, enfatiza Silvia. “À medida em que se começa a intervir com as técnicas manuais, a biomecânica dos órgãos internos, dos músculos, da fáscia e do tecido nervoso vai se organizando, e a dor reduz por um período. Quando se retorna à rotina e a dor volta, é sinal que existe uma memória errônea que não permite que o trabalho dessa terapia manual dure.”
A complexidade das relações e conexões que o corpo possui é enorme, e a podoposturologia permite esse entendimento, dando ferramentas para que se possa desvendar como o corpo de cada indivíduo funciona, o que acaba sendo fundamental para que as condutas terapêuticas sejam mais assertivas. Silvia destaca que a união desse conceito com os de cadeias musculares, sistema facial e crânio sacral, que envolve todo o tecido nervoso, além de reflexologia e biopsicologia dá o entendimento sobre o sistema como um todo. “Porque nem sempre aonde dói é aonde está a causa do problema. Quem grita são as vítimas, o vilão está sempre escondido.”